O que, de verdade, causa as emoções?
- André Wageck
- 12 de ago. de 2022
- 2 min de leitura

Filosoficamente falando, quando o tema é causalidade, entramos em um território notoriamente controverso. É difícil uma explicação que possua, ao mesmo tempo, rigor conceitual e simplicidade em sua exposição. O modo que escolhi para superar essa dificuldade foi o de dividir em níveis conceituais diferentes, entendendo que todos podem ser válidos e que o nível mais adequado de análise depende dos nossos objetivos no momento.
Para ilustrar o argumento, vamos levar em consideração a famigerada pergunta "por que a galinha atravessou a rua?". Qual seria a resposta certa para essa pergunta? Segundo a resposta dessa linda piada, a galinha atravessou a rua porque queria. A graça da piada é responder de um jeito que faça um sentido lógico ao mesmo tempo em que não acrescenta nenhuma informação à história. Na verdade, essa resposta já tem um pouco de informação do que aconteceu porque já exclui que ela tenha sido carregada inconsciente ou levada contra a sua vontade. Poderíamos responder também que ela atravessou a rua porque simplesmente viu milho do outro lado. No entanto, se perguntássemos para o dono do galinheiro, ele reclamaria que ela atravessou a rua porque deixaram a porta do galinheiro aberta. A filha do dono do galinheiro, pegando a indireta, retrucaria dizendo que a causa foi a falta da alimentação das galinhas pela manhã, que seria encargo de seu irmão. O irmão protestaria e diria que aquela galinha em particular é agitada demais e nunca quer comer na hora certa.
Qual é a explicação correta? Na verdade, todas as explicações podem ser adequadas. Poderíamos tirar o milho do outro lado da rua para que ela não o veja, poderíamos ter a porta fechada para que ela não saia, poderíamos alimentar a galinha para que ela não tenha fome e vá atrás de comida ou poderíamos até trocar as galinhas por galinhas mais calmas e menos exploratórias. Assim, proponho que uma forma de encarar esse tipo de dilema é valorizar todas as explicações e dar ênfase àquelas que são mais úteis para o momento, lembrando que ter uma explicação verdadeira em mente não torna as outras explicações incorretas.
Outras explicações poderiam vir, por exemplo, de um cientista biomecânico que poderia apontar o fato que ela atravessou a rua por causa de sua capacidade em acionar os músculos certos em uma sinfonia de equilíbrio e coordenação muscular. Ele poderia detalhar a utilização dos músculos até o nível do acionamentos das mais diferentes fibras musculares. Mas, a não ser que tenha um interesse acadêmico sobre locomoção de aves ou esteja projetando uma galinha robô, essa explicação não será muito relevante para o dono do galinheiro.
Ainda outra explicação poderia vir de um neurocientista que poderia responder que ela atravessou a rua porque liberou dopamina em seus circuitos de busca e mobilizou o seu organismo para ir atrás de uma recompensa. Esse explicação também pode estar correta, em conjunto a todas as outras, mas ela é menos relevante se não pudermos intervir de alguma maneira nesse sistema ou usar essa informação de alguma maneira para que a galinha não fuja e corra o risco de ser atropelada.
Assim: Diferentes explicações serão úteis para momentos diferentes, dependendo dos nossos propósitos e da nossa capacidade de intervenção.
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